quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Partilhar

Porque será que continuo a ter dificuldade em partilhar as coisas menos boas... os piores momentos...
As coisas boas, adoro partilhar!
Adoro partilhar a alegria, a felicidade, o amor, a minha força, a minha energia positiva...
Julgo sempre que isso vai ajudar alguém e não partilho da ideia de que por mostrarmos a nossa alegria e a nossa felicidade, a inveja de algumas pessoas as vá beliscar.
Não, eu adoro mostrar tudo o que de bom podemos sentir e viver e com o meu testemunho mostrar que cada um de nós pode ser Feliz, nem que seja por momentos, apreciando e valorizando os pequenos presentes que a Vida nos oferece ao longo do tempo que dispomos para andar por cá.
Gosto de dar a conhecer as ferramentas que uso para estar de bem comigo mesma e com tudo que me rodeia.
Pelo contrário, quando me sinto do outro lado, prefiro esconder-me e ficar a enfrentar sozinha todo o desassossego que se apodera de mim. 
Hoje tenho reflectido imenso sobre isso, quando a vontade de me isolar me tem andado a atentar desde há dias...
Cheguei à conclusão que quero poupar aqueles que mais amo, de me verem triste, ou porque não quero ameaçar a serenidade de ninguém.
Também aprendi que é olhando bem para dentro e enfrentando tudo sem distracções que a crise passa mais depressa e eu readquiro a minha energia interior e torno a ver a luz ao meu redor.
Só que também sei que tal como gosto de ajudar os outros a erguerem-se,  não tenho o direito de impedir que também quem me quer bem, o possa fazer por mim. 
Ao fim e ao cabo, julgo que todo este proceder vem do tal hábito doentio de fazer sempre tudo sozinha, de dar conta de tudo ao mesmo tempo... 
Que fazer com esta doença que  não deixa de me perseguir? 
Aceitar que também posso ficar frágil, que ainda não aprendi a resolver determinadas situações sem me angustiar e essencialmente Aprender a deixar-me Cuidar! 
Caminhar numa manhã de nevoeiro, em que pouco se pode ver por fora, levou-me a olhar para dentro e reflectir, enquanto ia apreciando os pequenos tesouros que fui encontrando pelo caminho. 





sábado, 10 de outubro de 2015

Cuidadora

Acredito que todos vimos a este mundo com uma missão, com um propósito! Julgo que eu vim para cuidar!
Desde muito jovem que cuido de alguém!
A primeira pessoa de quem cuidei foi da minha avozinha. Recordo-me que, muito nova ainda ajudava-a a lavar-se, a levantar-se e deitar-se e a muitas outras coisas.
Depois segui esta minha missão cuidando de todos aqueles que fui encontrando pelo caminho, envolvendo-os com as minhas asas de cuidadora.
Cuidei de filhos, pais, companheiro de grande jornada, de muitos meninos que me foram emprestados ao longo de mais de 30 anos e que sentia também um pouco meus, durante as horas que os tinha a meu cargo.
Se ao longo de todo esse tempo também precisei ser cuidada? Certamente que sim! Mas a essa necessidade sobrepôs-se sempre essa vontade imperiosa de cuidar, que me fazia esquecer-me um pouco de mim.
Talvez por isso ao longo de tanto tempo, quase sempre enverguei a capa de mulher forte que carregava a garra para todas as lutas. Que protegia e cuidava de todos!
Porém chegou um dia em que  olhei em volta e todos aqueles que havia cuidado tinham desaparecido ou haviam deixado de precisar do cuidado de antes.
Confesso que me senti perdida, mas logo descobri uma nova direcção para encaminhar as minhas asas protectoras. 
Foi aí que chegaram os"meus meninos" de cabelos brancos! 
Voltei a sentir que estava a fazer aquilo que me trouxe cá e fui esticando as asas e o coração, albergando um a um, os três grupos a que me fui dedicando.
Fiz da acção de cuidar o meu propósito de vida e acalmava o coração com a alegria que lhes dançava nos olhos quando estavam comigo! Alimentava-me com os seus sorrisos, os afagos de mãos e a ternura que me dedicavam.
Julguei que esse seria o bálsamo que me iria adoçar o resto do tempo que  a Vida me concederia para continuar por cá.
Cuidar, cuidar, cuidar... Isso preenchia-me.
Mas quase que por magia, um dia alguém surgiu no meu caminho e a pouco e pouco foi-me convencendo  a deixar-me cuidar... 
 Senti então que chegara a hora de aceitar esse convite, o de me deixar cuidar novamente.
De arrecadar um pouco a capa e as asas protectoras e dar umas férias à mulher sempre forte que me forcei a ser. De perder o medo de falhar com alguém, ou de ser perfeita, dando conta de tudo ao mesmo tempo, excepto de mim. 
Sinto que durante quase todo o tempo, com tanto desejo de não falhar e ser perfeita, acabei falhando com alguém, mas principalmente comigo mesma, nunca me colocando em primeiro lugar, porque houve sempre outros que precisavam mais.
Claro que uma parte de mim, iria ficar sempre alerta para, ao menor sinal, correr para cuidar.
Claro que ao pensar que alguém iria cuidar de mim, esse alguém também iria ficar debaixo das minhas asas de cuidadora... Mas para já, apetecia-me ser cuidada e esquecer-me um pouco de cuidar... nem que fosse só um pouco... nem que por algum tempo queria esquecer-me de ser a mulher forte de sempre...
E tão pouco tempo pedi à Vida, que Ela entendeu que mal eu decidira apenas deixar-me cuidar, voltou a colocar-me nos braços alguém para cuidar e fazer-me adiar um pouco a minha vontade de  ter um tempo para apenas me deixar cuidar... 
Dizem que temos tudo aquilo que pedimos... talvez mais uma vez, esqueci-me de mim, como sempre fiz... pedi tão pouco...
Certo que aprendi a ser paciente, mas também aprendi como pode ser breve o tempo que nos é concedido... Talvez por isso, adiar uma decisão tomada, provoca-me  alguma ansiedade...
Mas também aprendi que Viver é aproveitar as pequenas coisas e cada momento.  Isso é conciliável com qualquer situação, desde que estejamos despertos para aquilo que é realmente importante e o que conta não é a quantidade de momentos em que nos sentimos bem, mas a riqueza de cada momento de felicidade...
Nenhuma tempestade dura para sempre, o Sol acaba sempre por despontar, afastando as nuvens, por mais negras e espessas que elas sejam...