terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Reflexão de final de ano

Mais um ano que está a terminar! Mais 365 que se escoaram do tempo que tenho para estar aqui, deste lado da vida!
Esta é uma data que apela à reflexão, tal como o dia do meu aniversário!
Nestes dias penso mais na forma como agi e como utilizei o bem mais precioso, que dinheiro nenhum pode comprar e que também não se pode guardar para gastar mais tarde...
Há muito que estes últimos dias do ano me deixam pensativa... Há uns tempos, ficava nostálgica e meio deprimida, até com algum sentimento de culpa, por sentir que não estava a usar bem o tempo que me era concedido.
Hoje, fico tranquila, a pensar que bastam alguns acertos, porque o caminho a percorrer é este por onde caminho desde cada acordar, até cada adormecer. Caminho dia a dia, muitas vezes, hora a hora, ou momento a momento,
De longe pensar que atingi a perfeição, mas sinto que evoluí bastante.
Enquanto caminhava pelo campo, entregando-me por completo à contemplação do templo sagrado da Mãe Natureza, escapulia-me uns segundos para dentro de mim, porque era impossível não dar conta da alegria imensa que sentia... Alegria por nada... Alegria por tudo...
Caminhava e sentia as pedras debaixo dos pés, escutava os chilreios e o ruído da água dos ribeiros, sentia a aragem a acariciar-me o rosto e um leve zumbido a soprar-me aos ouvidos... e contemplava o céu, as árvores, os arbustos, os animais... e sorria... por sentir que cá dentro havia festa... Festa no Coração e na Alma...
Sei que é tempo de fazer limpeza por dentro, mas por mais que vasculhe, que mexa e remexa, não encontro nada para deitar fora.
Não há sinais de mágoa, rancor, inveja, ciúme, maldade...
Também não há ninguém que queira de cá tirar... Há aqueles que cá estão desde sempre e aqui se manterão... aqueles que foram chegando e também têm lugar cativo... aqueles que chegaram há pouco e já ganharam lugar privilegiado... aqueles que sempre me fizeram bem e jamais esquecerei e aqueles que deixei que me magoassem, mas com essas atitudes me deram grandes lições, por isso mantenho-os também por cá, para não esquecer nunca as aprendizagens feitas.
Dentro de mim sinto Paz e Amor que desejo levar aos corações onde não existam tais tesouros.
Reflexão feita!  Acho que usei bem este ano do qual me despeço com gratidão. 



quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Avó

Vou hoje partilhar convosco a mistura de sentimentos e emoções que o meu papel de avó desperta em mim.
Ultimamente tenho passado mais tempo como o meu príncipe e isso faz brotar em mim uma avalanche de emoções.
Estar ao lado daquele menino faz-me esquecer o cansaço, alguma situação que me incomode, tudo e mais alguma coisa.
Estar com ele é o maior desafio para viver plenamente o "agora", porque eu nunca sei o que vamos fazer no minuto seguinte.
Ele próprio mo faz lembrar a cada espaço de tempo que passamos juntos, quando me diz:
- Avó Isa AGORA fazer este jogo, AGORA fazer o outro, AGORA jogar à bola, AGORA correr; AGORA..., AGORA... ... ... 
Sempre AGORA!
Quando estou com ele, não há antes, nem depois, só AGORA!
Quando me escolhe para lhe fazer alguma coisa, o meu coração quase dispara no peito com tanta alegria.
Quando abre a boquinha feliz quando lhe dou a comida, quando come com autonomia embalado na minha conversa ou quando se deita e fica quietinho ouvindo as histórias que invento à pressa, sinto-me um génio da lâmpada que descobriu uma fórmula mágica... 
Desde o primeiro momento em que o toquei, em que senti o seu calorzinho doce nos meus braços que me apaixonei perdidamente por ele, mas não uma paixão cega. Foi antes um amor verdadeiro, consciente, que não prende, que liberta, que ama de longe e que sabe que ele vai crescer, a sua vidinha vai encher-se de outras gentes, outros risos, outros carinhos, outros abraços e a avó Isa, irá ocupar um lugar diferente daquele que ocupa hoje e ocupará nos tempos mais próximos.
Entendo e aceito com naturalidade, guardando a esperança de que no seu coraçãozinho haja sempre um espacinho onde se mantenham as recordações das histórias contadas e das brincadeiras com a avó Isa...

sábado, 20 de dezembro de 2014

Porque falo de mim

A primeira pessoa a incentivar-me a partilhar as minhas reflexões com outras pessoas foi o psicólogo com quem fiz psicoterapia.
Um dia falei-lhe que escrevia muito e ele pediu-me se podia partilhar com ele alguma coisa que tivesse escrito e nesse mesmo dia dei-lhe a ler um texto que levava comigo.
Noutras sessões levava quase sempre algum que achasse que retratava melhor o meu estado de espírito e o Dr. dizia-me sempre que eu tinha que partilhar de forma a ajudar outras pessoas que estivessem a passar por uma situação idêntica.
Algum tempo depois decidi criar o blog como esse propósito, o de partilhar abertamente situações que vivi, que ultrapassei, de abordar alguns assuntos que as pessoas não têm coragem de tocar, porque acham que só elas sentem e têm vergonha de se abrir sobre isso.
Nesta partilha incluí também as aprendizagens que fui fazendo nesta nova fase da vida.
Não falo de mim pelo facto de me querer expor, de desejar que me valorizem, ou que sintam piedade pelo período difícil a que sobrevivi.
Quando falo nele, e sei que falo muitas vezes, é como um sinal de esperança. Se eu consegui, qualquer outra pessoa também conseguirá.
Muita literatura me foi chegando às mãos que me fez ficar mais consciente e hoje sei que se nos focarmos em cada momento de vida, o sofrimento será com toda a certeza muito menor.
Podemos passar por situações menos fáceis, mas teremos sempre o céu para olhar, os pássaros para ouvir, a natureza para contemplar, outras pessoas para observar, música para ouvir, livros para ler e mil e uma formas de nos ocupar, não para esquecer a situação em causa, mas por sabermos que naquele momento nada podemos fazer para a resolver. Devemos reservar sempre um tempo para nós a cada dia, para não fazer nada, ficarmos simplesmente a sentir-nos por dentro, a ouvirmos a nossa intuição e a tomarmos consciência da existência da voz da mente, que muitas vezes nos martiriza.
Muitas vezes ainda entro num estado de ansiedade por uma ou outra coisa que se avizinha, mas cada vez mais cedo desperto e tomo consciência de que até ao momento em que isso irá acontecer, nada posso fazer nesse sentido, pelo que devo aproveitar o tempo a alimentar a alma com aquilo que me cerca e me faz sentir bem.
 Também já constatei que muitas das coisas com que já me amargurei, nunca sequer chegaram a acontecer. 
Se eu pudesse evitar, ninguém cometia os mesmos erros que já cometi, ninguém passava pelas dores que já passei e toda a gente descobria a fórmula mágica de evitar parte do sofrimento, porque ela é tão simples...
Basta que nos contentemos com as coisas mais simples, que aprendamos a observar e a apreciar aquilo que é realmente belo, que aprendamos a silenciar a mente e a escutar a voz da intuição e que conheçamos o verdadeiro amor, aquele que liberta, permite a tolerância, a compaixão, que não depende do retorno, porque esse retorno acaba por vir, embora possa chegar de forma diferente da que esperamos e de pessoas diferentes.
Grande parte das nossas dores advêm do nosso desejo em possuir coisas, em alcançar isto ou aquilo,  de gastarmos o precioso tempo que nos é concedido, saltitando entre o passado e o futuro e não saboreando o "agora" e principalmente por nos angustiarmos por as pessoas a quem damos amor não nos retribuírem da mesma forma...
É por julgar que poderei de alguma forma ajudar alguém, que eu continuo a falar de mim e a abrir aqui o meu coração ou talvez mais a minha alma...


sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Natal

O Natal deve ser aquilo que eu desejaria para todos os dias do ano, em todos os lugares do mundo.
Seria tempo de Paz, de Harmonia, de Amor e Alegria! 
Um tempo de reflexão e ao mesmo tempo de dádiva e partilha. Mas não partilha de grandes presentes comprados. Seria antes tempo de partilha daquilo que não se vende, ou de mimos simbólicos feitos com as mãos do coração.
Tanta coisa que se poderia oferecer... 
Com o tempo o Natal passou a ser um período de azáfama e de stress. Eu prefiro o outro, aquele em que cresci e que mesmo com pouco havia alegria e paz.
A surpresa de uns chocolatinhos no sapatinho, de umas roupinhas novas para estrear no Dia de Natal... era tão bom!
A azáfama ficava-se pela feitura de um bolinho, uns biscoitinhos ou filhós e da matança de um frango maior, ou um galo.
À noite, à lareira a minha mãezinha contava histórias, jogávamos às cartas, comíamos  os docinhos. Os meus pais bebiam um copinho de vinho doce que se comprava à medida e eu molhava o bico. 
Na manhã quase sempre acordava com o cheirinho a fatias de ovos... :) 
Se acordava mais cedo corria à cozinha a ver o sapatinho e ficava sempre feliz, por ver que o "Menino Jesus" me tinha deixado alguma coisa.
Recordo que ia sempre com medo de Ele não me deixar nada, temia o castigo por me  "portar mal"de vez em quando... Comecei a carregar culpas muito cedo... 
Depois as coisas de Natal foram crescendo... e mais tarde começaram a diminuir as pessoas desse meu Natal de infância e até do Natal já adulta...
A partir daí esta quadra começou  a deixar de ser desejada...
Este ano espero um Natal de Muita Alegria e Amor.
Estou a contar com a mesa cheia com todos aqueles que têm lugar no meu coração. Espero  juntar quatro gerações nessa minha mesa de Natal!
Alguns será a primeira vez que se sentam à minha mesa no Natal, outros a primeira vez que se juntam à mesma mesa. 
Tudo isso me deixa animada, tendo já superado a fase de stress ao pensar se serei capaz de preparar tudo a gosto de todos.
Tomei consciência do estado em que estava a entrar e transformei a preocupação em alegria e animação. Vou cozinhar para pessoas que me amam, tudo será feito com amor e certamente ficará bom... Se por acaso não ficar perfeito, sei que o amor traz tolerância e todos serão condescendentes.
O importante é que dentro de cada coração que estiver na minha mesa, haja Paz, Alegria, Esperança e Felicidade!
E se cada um desses corações estiver completo, haverá muito mais gente neste meu almoço de Natal, porque cada um guardará aqueles que não podem estar presentes, seja qual for a razão, mas que nem por isso serão esquecidos... 

domingo, 14 de dezembro de 2014

Voltar a Amar

O amor chegou bem cedo ao meu coração!
Não falo do Amor propriamente dito, porque esse sempre lá esteve. 
Recordo-me de bem pequena correr a dar beijinhos aos bebés de etnia cigana que passavam pela minha rua. A minha avó e a minha mãe não queriam, porque eles estavam sujos, mas eu achava-os lindos e escapulia-me mal se descuidavam. 
Com o que sei hoje, acredito que nessa altura eu conseguia ver a beleza interior. 
Julgo que as crianças têm esse dom, que depois perdem porque os adultos as condicionam, ou então simplesmente porque vão perdendo a sua pureza...
Retomando o assunto do amor, claro que não me escapei ao tal amor platónico da adolescência, aquele que bastava amar, mesmo que a pessoa amada nem soubesse, como foi o caso...
Mas o grande amor veio depois, apesar desse depois ter sido muito cedo mesmo... e veio pelo coração, pelo lado de dentro. Não veio pelo olhar, porque antes dos meus olhos verem, já o coração sentia... Veio pelas palavras que chegavam de bem longe, ditadas por um coração amargurado por uma guerra.
Esse amor veio e ficou e foi vivido intensamente durante cerca de 30 anos. A Vida/Deus decidiu cortar a linha do tempo e só me restou vivê-lo espiritualmente.
Durante anos pensei que me bastasse viver assim, amando apenas de forma espiritual aquele que de homem passara a Anjo. Aquele a quem eu escrevia quase diariamente a contar da dor, da saudade e também da luta pela sobrevivência, que cada vez ia ficando mais difícil de manter. Depois ia-lhe contando das pequenas conquistas... De conseguir entrar no chuveiro sem dor, de conseguir ir ver o mar sozinha, de comer este ou aquele prato sem que o salgasse demais com as minhas lágrimas, da primeira vez que não chorei antes de dormir, da primeira vez que não chorei revoltada e dorida por voltar a acordar... dos sucessos dos nossos filhos...
Tantas cartas... tantos textos... tantos dias... tantos meses... tantos anos...
Estava viva, sem viver... vivia aos bocados, enquanto trabalhava, porque adorava o meu trabalho... vivia aos soluços de tempo... fingia que vivia, quando era preciso, mas quando estava sozinha, sentindo-me só, restava-me o consolo de não precisar fingir... 
A pouco e pouco e com muita ajuda, aprendi a viver comigo mesma e estava decidida manter-me assim, dentro de mim, dando-me aos outros em geral, mas a ninguém em particular.
Houve uma altura em que me baralhei, meti os pés pelas mãos e vi sinais onde eram apenas ensinamentos que a Vida me queria dar.
Demorei a entendê-los, mas cheguei lá e resolvi voltar ao trilho certo, o de seguir viagem comigo mesma.
Foi nesse trilho que algo de especial aconteceu! 
Começou de forma semelhante à primeira vez, foram as palavras que me foram abrindo o coração... que me foram fazendo reflectir que... quem sabe... talvez... talvez ainda valesse a pena... será que ainda era tempo...
No meu caminho, encontrei uma pessoa que senti ser especial, que me sacudiu e me encorajou para me abrir de novo à vida. Que me fez ver que o passado nunca morre, fica para sempre no nosso coração, mas não deixa de ser passado. Que me incitou a criar coragem e olhar para mim e viver. 
Fui-me convencendo e, devagarinho o meu coração cresceu um pouco e arranjei um cantinho para esse homem especial que simplesmente, por uma série de acasos, chegou até mim. 
Esse cantinho foi crescendo e eu fiquei ansiosa, cheia de medo, cheia de dúvidas e sem coragem para aceitar o que estava a acontecer. 
Para quem julgava que só se ama de verdade uma vez na vida, tudo ficou em causa...
Não foi fácil aceitar que voltara a amar outro homem, sem que tivesse que travar uma grande luta interior. Não foi fácil vencer um sentimento de traição para com o único homem que amara. O que me convenceu, foi a certeza de que quem ama quer ver o outro feliz, esteja em que dimensão estiver.
Depois da luta para assumir perante mim mesma, veio a luta para assumir perante aqueles que são especiais para mim, era grande o medo de os magoar... e depois a coragem para assumir para fora.
Hoje estou segura daquilo que sinto, do passo que dei e estou feliz pela coragem que tive e pela dádiva com que fui agraciada, porque atenção, conforto, carinho, amor, amizade, vindo tudo de uma pessoa, é especial em qualquer idade.