quinta-feira, 13 de novembro de 2014

A Saudade

Ao longo do meu percurso pelos caminhos da vida e de acordo com as situações que fui vivenciando, a saudade tem mudado  de vestes e tonalidades.
Recordo a minha adolescência, em que a pressa era a minha principal companheira. Aí a saudade era avassaladora! Cada dia sem ver a pessoa amada era uma eternidade e provocava uma dor que parecia ser desejada. Era como se sofrer de amor e saudade fosse lei a ser cumprida a qualquer custo. Amor sem sofrimento? Não, isso não era amor com certeza! Amor sem saudade, daquela que faz derramar lágrimas aos cântaros? Não isso não era amor certamente.
Incrível como a dor e o sofrimento se associavam tanto ao amor... E aquela saudade dilacerante... 
Mais tarde conheci a outra saudade, aquela que torna invisível a anteriormente conhecida.
Aquela saudade que só tem ontem, que não tem hoje e muito menos amanhã.
Aquela que apenas se consola e alivia com as recordações daquilo que já foi e nunca mais voltará a ser.
Aí soube o que era mesmo SAUDADE! Aquela que rasga por dentro, que queima, que corrói, que nos deixa cegos e surdos para tudo aquilo que vai para além dela...
SAUDADE que nos acompanha a cada acordar e antes de cada adormecer. Que é nossa companheira inseparável a cada momento de cada dia que tortuosamente temos que suportar.
Com o tempo e com toda a capacidade de resistência e de sobrevivência, ela foi ficando mais leve, começou a doer menos e um dia dei por ela a abrir-me sorrisos de emoção. Começaram a chegar  os bons momentos vividos, as situações divertidas, emocionantes e aí considerei-me sobrevivente de um naufrágio anunciado.
Depois, a pouco e pouco tudo se foi arrumando no coração para ser olhado em dias e momentos especiais, já sem dor, apenas com alguma tristeza e saudade feita brisa suave de noite de Verão. 
Também hoje a saudade habita em meu peito, como que  a picar-me levemente, a fazer-me sentir vontade de ter e dar afectos, de estar  perto e totalmente presente junto de quem amo. 
Mas esta saudade de hoje, vem de uma distância cujas unidades de medida são desta dimensão onde nos encontramos. Saudade que  tem ontem, mas também antevê um amanhã. Que agora está coberta de neblina, mas amanhã espera um sol radioso.
Talvez porque a saudade que me aperta o peito hoje, me deixa ver encontros futuros, eu consiga segurá-la com a minha força e a minha coragem, ficando a antever momentos em que a distância se vai eclipsar e eu vou poder estar por inteiro junto de quem amo. 
Assim estou hoje, com esta saudade que não dói e que me abre sorrisos enternecidos pelo que já foi e pelo que virá a ser.