domingo, 23 de junho de 2013

Poesia

Um homem nunca devia
ter maldade na vingança
porque vive tão poucos anos
e por vezes passá-los cansa.

Ter amor, ser educado
tratar toda a gente bem
e não dizer mal de ninguém
que é para ser respeitado.
Não falar demasiado
e nunca ter a mania
viver com muita alegria
e ter um bom coração
mas dizer mal
de quem não tem razão
um homem nunca devia.

Ser leal, sério e puro
e ser sempre realista
estar sempre dando uma pista
que se sente mais seguro.
Pensar sempre no futuro
e viver com esperança
para ver se alcança
dias para ser feliz
não ligar ao que o mal diz
e não ter ódio nem vingança.

Viver na realidade
respeitar o velho e o novo
porque nasceu também do povo
que pertence à humanidade.
Ter sempre moralidade
para aqueles mais veteranos
nunca lhe pôr enganos
e dar sempre bom parecer
nascemos para  morrer
vivemos tão poucos anos.

Se algum dia ouvir gritar
alguém que esteja aflito
socorrer é tão bonito
que Deus lhe há-de pagar
Deve-se sempre ajudar
quando ver mal uma criança
mais tarde tem por herança
mais um amigo ao seu lado
mas todo o  tempo
que é mal passado,
por vezes passá-lo cansa.

Sérgio Albino - Aldeia do Cano

Poesia - O Casamento

A sorte do casamento
é uma carta fechada.
Há quem tire a carta certa
há quem tire a carta errada.

Todos nós em geral
seguimos esse caminho
de construir nosso ninho
é o desejo fundamental.
É um passo especial
que se dá nesse momento
um grande acontecimento
jamais esquece na vida
está numa carta escondida
a sorte do casamento.

O amor não tem fronteira
entra em qualquer coração
provoca a grande paixão
ultrapassa muita barreira.
Mesmo que a pessoa não queira
pelo amor é abordada
e não se dá desviada
do destino que Deus lhe deu,
mas aquilo que recebeu
é uma carta fechada.

Quando se anda à procura
o lema de um qualquer
seja homem ou mulher
pretende a boa criatura
se possível com cultura
mas quando recebe oferta
pode não ser a correcta
o adivinhar é proibido
entre esposa e marido
há quem tire a carta certa.

Depois da carta escolhida
vai a prova tirar
se teve sorte ou azar
com sua escolha preferida
quando a carta for lida
muito bem analisada
sabe se foi acertada
essa sua decisão
traídos pela ilusão
muitos tiram a carta errada.

Custódio Ramos - Aldeia do Cano


Poesia à Primavera

A Primavera é tão linda
para quem  saiba apreciar.
Vêem-se tão lindas flores
e tanto pássaro a cantar.

Vê-se rosas albardeiras na ombria
papoilas brancas nos matagais
papoilas vermelhas nos favais
os rouxinois cantar nos dias.

Cantam de noite e de dia
pela árvore, sobre a hera
parece que tudo está à espera
em vindo a linda estação do ano
decerto que não há engano
é tão linda a Primavera!

António Gonçalves - Aldeia do Cano

Relato da Actividade Semanal

Está a ficar difícil manter o meu blog actualizado!
As recolhas são mais que muitas e as experiências também. 
Com todos os grupos partilho o mesmo carinho e o mesmo entusiasmo e cada dia é sempre um novo dia, com algo de novo, embora nem sempre sejam momentos de alegria.
Se há coisa que me esforço, é não me deixar envolver demasiado com as situações mais tristes com que me deparo, porque acho que o meu papel é precisamente o inverso, fazê-los esquecer os problemas, as doenças, as dores, as tristezas...
 Mas infelizmente nem sempre isso é possível, talvez porque o meu envolvimento com estes "meus meninos", atingiu um nível elevado. 
A semana passada no Centro de Dia apenas orientei a aula de Actividade Física, que como coincidiu com uma saída, contou com um grupo mais reduzido. Este facto resultou de eu, por motivos pessoais, ter alterado o dia da aula. Mas o resultado foi positivo como sempre e a alegria imperou, assim como a boa condição física dos meus atletas.
A tarde em Colos, poderia ter sido mais activa e produtiva, não me tivesse eu deixado envolver emocionalmente por uma situação de grande debilidade de uma "menina" tão doce, por quem eu tenho um grande afecto. 
Mas haverá outras tardes em que a energia e a coragem superarão o lado emocional. 
Na Quinta-Feira na Aldeia do Cano, as actividades decorreram num ambiente de alegria. O tema tratado foi -  Alimentos inimigos da saúde. Houve diálogo, partilha de ideias e ficaram algumas recomendações. Seguiram-se os momentos habituais: memorização de lengalengas, leitura de contos, hora da poesia e aula de ginástica, com dança rítmica. 
Quero aqui referir que o momento de poesia, está a ser difícil de gerir, porque aquele lugar é terra de muitos poetas, de forma que tive que lhes propõr que em encontros futuros temos que limitar o número de intervenções. Ficou-nos  a faltar tempo para o momento do cante Alentejano... 

Legalenga trabalhada

Copo, copo, gericopo,
gericopo, copo cá
Quem não disser três vezes
copo, copo, gericopo,
gericopo copo cá,
por esse copo não beberá.



A importância das feiras de antigamente

Tanto em Colos, como no Cercal a chegada da Feira de S. João e de S. Pedro era motivo de grande animação.
Uns dias antes caiavam-se as casas e os muros. Varriam-se e limpavam-se as ruas. No Dia de Feira, colocavam junco no chão das casas, quando este era de terra.
Durante o tempo em que trabalhavam, iam juntando um dinheirinho para comprar uma roupa nova e calçado para estrearem no Dia de Feira e também para poderem comprar algumas coisas. 
As raparigas costumavam estrear um vestidinho de chita e uns sapatinhos novos. Quem não conseguia mandar fazer um vestido novo, levava o melhor que tinha. 
Os amigos da Aldeia do Cano, contam que vinham a pé até ao Cercal. Quase sempre traziam a roupa nova guardada para não se sujar e quando cá chegavam mudavam-se. Havia quem demorasse 2 horas  para cada lado.
As feiras costumavam durar 2 ou 3 dias. Aproveitava-se para comprar o que fizesse falta e que o dinheiro chegasse. 
Tanto na Feira de S. João, como na de S. Pedro, havia bailes, onde a rapaziada se divertia e onde muitas vezes começavam os namoros. Também havia circo.
Muitos casais de namorados aproveitavam as feiras para comprar as mobílias para o casamento. Estas mobílias resumiam-se a uma mesa e 2 cadeiras, um catre (cama de ferro), uma mesa de cabeceira, uma mala de madeira, um lavatório e pouco mais.
Os homens e os rapazes usavam chapéus. As mulheres casadas usavam na cabeça um lenço da moda e as viúvas um lenço preto.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Poesia do Sr. Custódio Ramos (II)


Primeiras Palavras

Com poucos meses apenas
duas palavras pequenas
à nossa memória atrai.
As primeiras a aprender
e jamais vão esquecer,
as palavras Mãe e Pai.

Essas palavras tão queridas
tantas vezes repetidas
ouvimos com a atenção
ditas com tanto amor
por terem grande valor
ficam juntas do coração.

Com o nosso crescimento
vamos a cada momento
sabendo um pouco mais.
Mas as palavras mais belas
não há outras como aquelas
que nos ensinam nossos pais.

Depois de anos passados
a nossos filhos abraçados
vamos de professor fazer
enquanto os vamos beijando
nós lhes vamos ensinando
Pai e Mãe,  a dizer.

(Sr. Custódio Ramos - 03 de Junho de 1993)

Poesia do Sr. Sérgio Albino (II)

Rosas do Meu Jardim

Eu tenho no meu jardim
duas flores a crescer
Trato-as com muita amizade
e assim  mais não pode ser.

Iguais às outras que são
bonitas, muito engraçadas
mas não precisam ser regadas
nem de Inverno nem de Verão.
Porque eu trato-as com amor e pão
que isso me pertence a mim.

Eu sou um jardineiro assim,
que lido com elas
com tão bom jeito.
Não servem para o peito,
as rosas do meu jardim.

São rosas que eu quero dar
quando estiverem criadas
mas quero-as bem tratadas,
como delas estou a tratar.

Porque não servem para prantar
num vaso para se ver,
mas servem sim para eu dizer
que lhes tenho muita amizade
porque eram pequenas
com tão pouca idade
quando estavam a crescer.

Eu é  que as plantei,
são minhas essas flores,
para mim são dois amores,
tratá-las melhor não sei.

Ainda ontem a noite eu sonhei
um sonho lindo de verdade,
que em casa me dão claridade
e são lindas como o luar de Agosto,
mas desde  manhã ao sol-posto
trato-as com muita amizade.

Criadas no mesmo canteiro,
uma é loura, outra é morena,
mas só que há uma que é mais pequena,
pois se a outra nasceu primeiro.

Eu sou um bom quinteiro,
não as quero deixar perder
que eu gosto  muitas d´as ver
de manhã quando me levanto
são rosas que adoro tanto
que assim mais não pode ser.

(Sr Sérgio Albino - Poesia dedicada às filhas)



sábado, 15 de junho de 2013

Poesia do Sr. Sérgio Albino

O Xaile de Minha Mãe

O Xaile de minha mãe querida
é tão velho e tão rasgado
que mesmo assim ainda serviu,
para eu andar agasalhado.

Um trapo já desvaído,
para mim serviu de manto,
pelo frio que eu tinha tanto,
só com ele dava dormido.

Pequeno  e pouco sentido
passei assim esta vida
sem ter roupa nem comida
e nem brinquedos para brincar
não deixo de recordar
o xaile de minha mãe querida.

Do pouco que podia acariar
fazia para eu comer
e desejando de eu crescer
e para eu me por a andar.

Quando me ouvia chorar
corria estava ao meu lado
No colo eu era bandeado
e mamando o leite do peito
desembrulhava com tão bom jeito
o xaile de minha mãe querida.

Muito se sacrificava
para matar meus desejos,
no rosto dava-me beijos
o que por vezes não chegava.
porque quando para mim olhava
sempre com pouca alegria

Por vezes ainda mais comia
mas não tinha para me dar
mas o que alguém não queria usar
para mim ainda servia.

Deus a a mim só me ofereceu
metade do meu amor
porque eu nunca senti o calor
doutro colo que era meu.

Minha mãe é que mo deu.
trapos velhos já usados
novos não dava comprado,
porque comigo eram três filhos
era já tão velho,
e sem ter cadilhos,
onde eu andava embrulhado.

Sr. Sérgio Albino - Aldeia do Cano

Poesias de Sr Custódio Ramos

O Xaile de Minha Mãezinha

O xaile de minha mãezinha
por mim sempre recordado,
que grande gosto que eu tinha,
em dormir nele enrolado.

Era preta a sua cor
em volta tinha cadilhos.
Minha mãe com muito amor,
nele envolvia seus filhos.

Já estava desbotado
de muito uso ter,
meus irmãos tinha agasalhado,
antes de eu nascer.

Junto dele me encontrava,
quando estava doente
e de minha mãe escutava
histórias de antigamente.

Com seus cadilhos brincava,
ao receber o seu calor,
enquanto minha mãe rezava
por mim ao Nosso Senhor.

Cem anos posso viver
e andar por todo o lado,
mas jamais vou esquecer,
aquele xaile sagrado.

(Custódio Ramos - 07-07-1993)

Poesia de D. Glória

Estamos perto do Santo António,
espero que não falte nada,
que foi uma boa ideia,
fazer esta sardinhada.
Nem tanto pelo comer,
mas sim pela convivência.
Agradecemos à Alcide e à D. Luísa,
pela sua paciência.
Faço mais um agradecimento.
para que não levem a mal,
também agradecemos,
à Junta do Cercal.


D. Glória - Aldeia do Cano

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Actividades do Dia 12 de Junho

Nesta semana variou um pouco a calendarização das actividades.
De manhã teve lugar a aula de Actividade Física no Centro de Dia. A turma hoje estava quase completa.  Realizámos exercícios variados usando as bolas. Como de costume correu muito bem. No final contei-lhes da experiência realizada na Aldeia do Cano com a dança e perguntei-lhes se queriam experimentar. Passei a música, exemplifiquei os passos e realizámos um exercício experimental, que não poderia ter corrido melhor. Ficaram muito animados, mas dado o adiantado da hora, não houve tempo para repetir.
Ficou assente que no próximo dia, iremos voltar  a esta actividade, já mais a sério. 
Lamento não ter feito registos fotográficos, mas com o entusiasmo das actividades e com o facto de ter que ajudar quem apresenta mais dificuldades, acabei por me esquecer das fotografias, apesar de ter a máquina perto de mim.
Vou deixar como ilustração uma foto de uma actividade anterior. 


De tarde decorreram as actividades na Aldeia do Cano.
O tema de conversa voltou a ser a Saúde - Alimentação. 
Falámos na importância do peixe e dos legumes na alimentação. Como tínhamos programada uma sardinhada para o final da tarde, falei-lhes na vantagem de ingerir peixes gordos, como é o caso da sardinha, cavala, sarda, salmão... Falamos também nas formas mais saudáveis de cozinhar o peixe e como deve ser acompanhado de legumes frescos. No que respeita à sopa, sugeri-lhes substituirem a batata por corgete, cenoura ou abóbora.
De seguida houve tempo para a leitura de alguns contos populares, adivinhas, treino na memorização de versos e algumas cantigas, que cada vez saem mais apuradas.
Depois foi aberto o espaço aos nossos poetas populares e foi com grande agrado que o Sr Custódio Ramos, o Sr. Sérgio Albino e D. Glória, partilharam algumas poesias. 
A amiga Alcide também partilhou comigo algumas letras de cantigas do Cante Alentejano. Oportunamente deixarei aqui todo este registo, já que fui autorizada a fazê-lo. 
Chegou então o momento alto da tarde que é a Actividade Física! 
Realizámos exercícios variados com bastões e cada vez aqueles meninos estão mais sintonizados uns com os outros.
No final voltámos ao nosso exercício rítmico. Voltámos a repetir a nossa coreografia, desta vez com outra disposição na sala e com outro material. Mais uma vez foi um momento de grande alegria e boa disposição. Há um pequeno vídeo, mas por enquanto será apenas visionado pelo grupo. Quem sabe depois, este ou outro de melhor qualidade, não será partilhado convosco? 
No final da tarde teve lugar um agradável momento de convívio, com a realização de uma sardinhada, para a qual todos contribuímos.
Foi mais uma tarde muito bem passada, com grande alegria, no meio de muita amizade. 






segunda-feira, 10 de junho de 2013

Recordações sobre os Santos Populares (parte II)

As minhas meninas falaram-me das memórias que lhes ficaram das noites dos Santos Populares, principalmente o Santo António e o S. João.
Recordaram algumas brincadeiras que faziam enquanto saltavam a fogueira, para saberem com quem iriam casar, se os rapazes de quem gostavam, também gostavam delas, como seria a sua vida futura...

- Enquanto saltavam a fogueira, o primeiro nome que ouvissem chamar, seria o do futuro marido.

- Saltavam a fogueira com uma alcachofra na mão e quando iam para casa, deixavam-na em água, na rua. Se no dia seguinte ela estivesse florida, significava que o rapaz de quem gostavam também gostava delas. Se estivesse murcha, queria dizer que não eram correspondidas. 

- Escreviam uns papelinhos com vários nomes e um com a palavra desconhecido. Pulavam a fogueira com os papelinhos na mão e quando se iam deitar, colocavam-nos debaixo da almofada. No dia seguinte, quando acordavam, deitavam a mão e tiravam um à sorte. Esse seria o nome do futuro marido. Se tirassem o que tinha a palavra desconhecido, queria dizer que ainda iriam conhecer esse rapaz. ( Devo dizer-vos que fiz esta brincadeira várias vezes e sempre me calhava o papel com nome desconhecido. Deu certo, pois só mais tarde viria a conhecer o meu companheiro)

- Saltavam a fogueira com 3 favas na mão, uma completamente descascada, outra meio descascada e outra com casca. Punham debaixo da almofada quando se iam deitar. De manhã tiravam uma e isso queria dizer qual iria ser a sua condição económica no futuro. 
Se tirassem a fava descascada era sinal de que iriam ser muito pobres; se fosse a meia dascascada, seriam remediadas e se fosse a fava com casca completa, seriam ricas.

- Saltavam  a fogueira com um bocado de cera na mão. Depois derretiam numa latinha e deitavam água. Quando solidificava tentavam ver as figuras que se tinham formado e daí descobrir as ferramentas do trabalho dos futuros maridos. 
A minha mãe contava que quando fez esta brincadeira não percebia nada dos desenhos, mas que alguém lhe disse que parecia preguinhos pequenos, um martelo e umas outras coisas que faziam lembrar ferramentas de sapateiro. Também deu certo, porque mais tarde os meus pais conheceram-se e ele era sapateiro.

Muitas destas brincadeiras ainda me recordava da minha mãezinha me falar nelas, mas achei importante a sua recolha e divulgação. Quem sabe alguns dos jovens que por aqui passarem não são tentados e recuperá-las...

Benzedura da Linha Desmentida

Esta benzedura era usada quando as pessoas davam um mau jeito a braço ou perna e até quando os animais ficavam coxos.
A pessoa que benze, pega num novelo de linha e numa agulha com linha enfiada e enquanto vai dizendo a benzedura vai passando com a agulha pelo novelo, como se estivesse a  coser.

Benzedura

- O que coso eu? Diz a pessoa que faz a reza.
- Carne quebrada, linha desmentida, nervo torto - responde a pessoa que está a ser benzida.
- É isso mesmo que eu coso.
Se é carne que quebrou, se é linha que desmentiu, se é nervo que destorceu, se é abertura. Com o poder de Deus e da Virgem Maria e do Sr. Sto Amaro (se for na perna), ou do Sr. Jesus dos Passos (se for o braço), vão  todos os nervos e todos os tendões ao seu lugar e nunca mais se tornem a desmanchar.
Isto é tão verdade e pura como o Nosso senhor Jesus Cristo subiu e disse missa no seu divino e sagrado altar.
Com o poder de Deus, da Virgem Maria e do Sr Sto Amaro, ou Sr. Jesus dos Passos, com que eu te benzo da linha desmentida, do nervo torcido, da abertura e com o Pai Nosso e uma Avém Maria.  Pai, Filho e Espírito Santo.

Esta reza tinha que ser repetida num número ímpar de dias (3, 5, 7 ou 9). Normalmente era feita 3 ou 5 dias seguidos.

(D. Maria Inácia - Lar de Colos)

domingo, 9 de junho de 2013

Tradições dos Santos Populares ( parte I)

Tenho andado a perguntar aos" meus meninos" acerca das tradições dos Santos Populares. Aqui deixarei o registo das informações que recolhi. 

Mastros de Santo António, S. João e S. Pedro

Quase sempre estes mastros eram para pagamento de promessas, mas outros eram feitos por tradição. 
Começavam a fazer os biscoitos, dois ou três dias antes. Duas pessoas amassavam num alguidar, cerca de duas ou três horas, para a massa ficar boa. Os biscoitos eram feitos com ovos, mel, leite e farinha.
Depois eram tendidos e enfeitados com bocadinhos de massa a fazer flores, ou com nome de quem os fazia, ou o nome de algum rapaz de quem elas gostassem, ou que tivesse pedido para fazerem um biscoito com o nome dele, ou com algum sinal que soubessem que era para ele.
Na véspera enfeitava-se o mastro!
 Depois de bem enfeitado , iam uns homens levantá-lo e colocá-lo no sítio que já estava preparado e penduravam-se os biscoitos.
À noite começava a festa! 
As pessoas que tinham mandado fazer o mastro, eram as primeiras a dar umas voltas em seu redor, a dançar e a cantar. 
Até quase à meia-noite costumavam cantar e dançar uns com os outros. Por volta da meia-noite vinha o tocador, primeiro era quase sempre de realejo e mais tarde de concertina. Dançavam a noite toda e no outro dia havia festa também todo o dia. 
Alguns lavradores costumavam dar comida a quem lá estivesse. Nesses casos toda a gente dormia no monte. As raparigas dormiam em casa e os rapazes debaixo das árvores.
De manhã bem cedo todos se levantavam e ajudavam os lavradores a ir buscar água à fonte, a fazer a comida...
À tarde fazia-se a distribuição dos biscoitos. As pessoas que davam e as que recebiam ficavam separadas por uma corda. Do lado do mastro, as pessoas com umas alcofas, iam chamando e dando os biscoitos a cada um dos presentes. 
No final o mastro era derrubado e guardado, para voltar a ser erguido pelo S. João e muitas vezes também pelo S. Pedo.

Felicidade por Contágio

Será insanidade ou uma qualquer estranha doença que se apoderou do meu corpo e do meu espírito desde há alguns dias a esta parte?
Os principais sintomas deste padecimento são as mãos que não conseguem ficar paradas, os braços que só querem abraçar, as pernas que se recusam a ficar quietas, os lábios que não se cansam de sorrir e o coração que ameaça fugir-me do peito.
Sofro de uma doce enfermidade. Apanhei-a através de contágio! 
Contagiaram-me com o vírus da alegria e da felicidade!
Contagiaram-me com sorrisos e risos, com brilho de olhos e toques de mãos, com mimos e carinhos, com doces palavras, com boas notícias, ...
Estou doente! Irremediavelmente doente!  E pela primeira vez estou a adorar sentir-me assim, padecendo desta enfermidade para a qual não quero que descubram a cura, porque eu quero sofrer dela até ao último momento do tempo que a vida tiver para me dispensar.  
E para que não corra o risco de me curar, continuarei a distribuir amor, carinho e esta alegria imensa que sinto brotar do meu interior profundo, e a par disso manter-me-ei desperta para tudo o que me cerca, inundando de luz este meu mundo, no qual quero viver momento a momento, valorizando aquilo que realmente valer a pena. 
Sei que esta é a fórmula mágica para que a alegria e a verdadeira felicidade não me abandonem, momento a momento, até ao fim dos meus dias. E quando esse dia chegar, ou pelo menos o último momento de lucidez acontecer, eu quero sorrir e dizer: Foi bom estar por cá!

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Actividades do dia 6 de Junho na Aldeia do Cano

Esta tarde desloquei-me à Aldeia do Cano, para dinamizar mais uns momentos de convívio e animação.
Não sei o que se passa naquela sala, mas de semana para semana, nasce gente... Hoje iniciámos com 23 pessoas, e terminámos com 24, porque andava lá um "menino" a rondar, mas foi apanhado e convidado a entrar também. No grupo havia 5 homens, o que me dá muita alegria, pois naquelas idades e naquele meio, os homens não costumam ser tão receptivos a estas actividades.
Com  a sala cheia, falámos um pouco sobre o tema do dia:  A importância da água para a saúde. Ouvi-os, falei-lhes no papel da água no organismo e dei-lhes algumas orientações para consumirem mais líquidos. 
De seguida li-lhes alguns Contos Tradicionais Portugueses, que deram origem a boas risadas. 
Depois chegou o momento da memorização dos versinhos já trabalhados, mas que de semana a semana ficam um pouco esquecidos e que também foram novidade para quem estava de novo. Esta semana introduzi mais um, que já consta do texto de Colos e que muitas pessoas já conheciam. 
Como estamos na maré dos Santos Populares pedi-lhes que recordassem os seus tempos de juventude e o que costumavam fazer nestas datas. Também me falaram sobre as recordações que guardam da Feira de S. Pedro.
Chegou então o momento da Actividade Física, que me parece ser sempre o ponto alto da tarde.
Hoje esta actividade teve duas fases. A primeira, de ginástica com bolas, realizando exercícios variados de pé e sentados. A segunda fase foi uma nova experiência que consistia numa dança, com uma coreografia adaptada à idade destes "meninos", tendo como base o tema "Movimento Perpétuo Associativo", dos Deolinda.
Preparei a actividade com alguma reserva e apesar dos passos serem muito simples, não criei grandes expectativas, mas... digo-vos, superou tudo aquilo que porventura me tivesse passado pela cabeça!
Palavras? Não tenho nenhumas que use para vos dizer... Foi lindo, simplesmente lindo, ver aquela gente a mexer-se completamente. Fizemos e repetimos e ficámos todos com vontade de repetir muitas mais vezes. 
E mais do que vê-los dançar, foi ver o seu contentamento. A certa altura, julguei que estava num mundo à parte... e foi emocionante. 
Após um tempinho para repôr as forças, ainda houve tempo para umas poesias do amigo Custódio Ramos e umas cantiguinhas alentejanas: "Lírio Roxo" e "Dá-me uma Gotinha d´Água".
Depois as despedidas...o para a semana há mais... o volte sempre... o gostei tanto... o 2 vezes por semana é que era bom... E como sempre aquelas palavras e aqueles sorrisos fazem o meu coração disparar a mil à hora...



terça-feira, 4 de junho de 2013

Actividades do dia 4 de Junho

Mais uma Terça-Feira em que andei saltitando do Centro de Dia para o Lar de Colos! 
De manhã orientei a Actividade Física, com um grupinho de 15 elementos.
Realizámos exercícios tendo como material de apoio os bastões. 
Correu bem como sempre, embora tenha introduzido alguns exercícios novos, quer de pé, quer sentados, alguns dos quais exigiam simultaneamente trabalho de pernas e braços. 


De tarde, no Lar de Colos, depois dos miminhos de chegada, realizei várias actividades.
Li-lhes alguns contos tradicionais a que se seguiu a leitura de várias poesias do pai da D. Idália, um grande poeta popular alentejano.
Antes do lanche ainda orientei uns jogos com  Blocos Lógicos, que são sempre motivo de grande animação e cujo objectivo é exercitar a memória e também a motricidade. 
Em breve deixarei aqui as actividades que se podem realizar com este tipo de material.


 Houve ainda tempo para treinar algumas memorizações de pequenas poesias e lengalengas já trabalhadas.

Poesias
I
Fui-me deitar a dormir
 debaixo da laranjeira,
caiu-me uma flor em cima,
ai Jesus que tão bem cheira.
Cheira a cravo, cheira a rosa,
cheira a flor de laranjeira

 II
O porquinho foi à feira,
sem ter nada para comprar,
comprou lá uma cadeira,
para a irmã se sentar.
A irmã sentou-se
e a cadeira rebentou.
o porquinho ficou triste,
com o dinheiro que gastou.

Na parte final realizou-se a aula de Actividade Física, com algumas cadeiras vazias, por motivo de doença e visita de familiares, mas com um bom desempenho por parte dos meus lindos atletas.
O amigo António Henrique, que já tenho referido aqui, por ser uma pessoa com apenas 56 anos, regista progressos muito significativos, que me enchem de orgulho.

E com a tarde a findar, ainda foi tempo de conversarmos sobre os Santos Populares, já que no Lar se ultimam os preparativos para o Mastro de Sto António. 
Falámos também sobre a Feira de S. João e recolhi algumas lembranças de como era vivida antigamente. 
Deixarei aqui esse registo logo que tenha oportunidade.
E após umas quantas despedidas, como já é habitual, foi tempo de rumar até casa, com muita alegria no coração, como sempre que de lá venho.





segunda-feira, 3 de junho de 2013

Reaprender a Ser Feliz

Durante anos duvidei que um dia voltaria a desejar ser feliz e mais, nem sequer equacionava a hipótese, mesmo que remota, de o conseguir, mesmo que viesse a ambicioná-lo.
Mas com o tempo fui descobrindo e aprendendo. Com ele aprendi que tudo muda e que também nós passamos a olhar o que nos cerca com outros olhos e com outro sentir.
Talvez mais por instinto de sobrevivência, não sei qual o dia, ou o momento em que decidi que não queria apenas manter-me viva, queria viver.
Queria que os meus olhos se abrissem à contemplação da vida, que os meus ouvidos ouvissem o que estava cá fora, queria voltar a sentir os aromas e queria que o meu coração se abrisse à alegria, à emoção e quem sabe, à  felicidade.
Desde esse dia, ou desse momento iniciei este caminho sem fim à vista, em busca da felicidade, ou pelo menos da paz e da alegria
Não procurava uma felicidade de cores intensas e ofuscantes, contentar-me-ia com uma felicidade leve, de cores pálidas e suaves.
A partir desse dia rumei em busca do saber que me ajudasse a seguir este plano que ousei traçar.
Determinada, sigo esta viagem feita de avanços e recuos, de paciência e desânimo, de momentos de alento e outros de cansaço.
Sigo amparada pela certeza de que não vou desistir, pois após cada queda, será sempre tempo de me erguer de novo, limpar feridas e seguir adiante.
Sigo também consciente de que para continuar neste caminho ladeado pela alegria, paz e felicidade, apenas me devo focar no presente, no agora e ir lançando ao meu redor sementes do amor que carrego dentro de mim.
Hoje sei que as dores do passado, são meramente psicológicas, porque nada daquilo está já a acontecer. Aceitei a prova mais dura a que a vida me submeteu, apesar de ainda em muitos momentos de desânimo, uma nuvem de saudade e tristeza se abater sobre o meu coração.
Também  aprendi que o medo em relação àquilo que o amanhã me poderá trazer ou não, só me faz mergulhar num mar de ansiedade sem sentido. Para que hei-de sofrer por algo que nem sei se vou vivenciar?
Por todas estas razões, porque gosto muito de mim e quero sentir-me bem no máximo de momentos possíveis, procuro viver todo o tempo que puder no Agora.
Por vezes dou comigo de peito apertado e procuro imediatamente a causa. Já a descubro rapidamente. Ou estava presa nas teias do passado, ou vagueava por esse futuro desconhecido. Então respiro fundo e digo:
- Luísa, ouve e sente o que está a acontecer agora!
E logo as minhas mãos sentem o que estou a tocar, aos meus ouvidos chegam os sons que me cercam e aos meus olhos, as imagens daquilo que me rodeia.
Assim me livro da angústia do passado e da ansiedade em relação ao futuro e é assim que vou conseguindo ser feliz, sempre apoiada pelos sorrisos e afagos que chegam até mim, pela infalível lei do retorno.
Deste modo sigo nesta  viagem da redescoberta da felicidade, de peito aberto à vida, sem grandes planos nem objectivos.